sábado, 1 de abril de 2023

Como Reconhecer um Surto de Esquizofrenia

Maiara Ribeiro é repórter do Portal Drauzio Varella desde 2018. Tem interesse em assuntos relacionados à saúde da criança, da mulher e do idoso.

Um surto de esquizofrenia provoca delírios e alucinações. Tratamento é fundamental para prevenir. Veja como agir.

A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico marcado principalmente pela perda de conexão com a realidade. Durante um surto psicótico ocasionado pelo transtorno, os sintomas predominantes são os chamados sintomas positivos, que não têm esse nome por serem “bons”, mas sim porque levam a pessoa para um polo mais “para cima”, para o lado oposto de um estado depressivo. Eles incluem principalmente delírios e alucinações. A pessoa começa a falar coisas sem sentido, incompatíveis com a realidade. É comum ela acreditar fortemente que está sendo perseguida por alguém. Também é muito comum que ela ouça vozes e sinta que está sendo observada. Seu comportamento começa a mudar, seus pensamentos ficam desorganizados e desconexos e ela pode ficar agitada.

Sintomas desse tipo caracterizam a fase aguda da doença, mas isso não significa que eles passam rapidamente. Sem tratamento, o surto pode durar semanas e até vários meses. Após saírem do surto, os pacientes podem apresentar sintomas residuais, que normalmente são os sintomas negativos: isolamento social, menor interação afetiva, retraimento e falta de vontade para atividades diversas. A pessoa pode ficar um pouco apática, e alguns familiares podem chegar a pensar que ela é preguiçosa ou está desmotivada, quando, na verdade, esse é um estado relacionado ao seu transtorno.

Apesar da estigmatização e de muita gente relacionar esquizofrenia a atos agressivos, os pacientes não são violentos. O que pode ocorrer é, por exemplo, durante um episódio de delírio de perseguição muito intenso, o paciente agir para se defender da ameaça e ser agressivo nesse contexto. Mas isso é uma exceção.

Às vezes o transtorno vem à tona quando uma pessoa com esquizofrenia está envolvida em algum crime que repercute na mídia, o que passa a falsa ideia de que os pacientes são agressivos. É preciso combater o estigma e esclarecer que, com tratamento adequado e medicação correta, muitas pessoas com esse distúrbio podem levar uma vida próxima do normal, com trabalho, estudo e convivência com amigos, colegas e familiares.

O que fazer diante de um surto?

Os familiares ou pessoas próximas não precisam concordar com os delírios que o paciente esteja relatando, mas é preciso reconhecer que ele está, de fato, vivenciando aquilo. Ou seja, não é necessário fingir que você está vendo um suposto perseguidor, mas é importante reconhecer a experiência como real para aquela pessoa, pois isso ajuda a evitar confrontos agressivos que menosprezem o delírio. É fundamental que a família do paciente se informe a respeito do transtorno e acompanhe de perto o tratamento para saber a melhor forma de lidar com os sintomas. Se o paciente ainda não estiver em tratamento, busque atendimento psiquiátrico rapidamente.

Em muitos casos, pacientes reconhecem que tiveram atitudes inadequadas ou sem sentido depois que saem do episódio de surto. Por exemplo, uma pessoa pode ter uma atitude irracional e se machucar porque ouviu vozes ordenando-a a fazer aquilo, mas após retomar ao seu estado normal, entende que aquela ação não fazia sentido. É importante, portanto, estar presente para acolher e ajudar o paciente a compreender sua condição.

Esquizofrenia é progressiva

Quanto antes o tratamento for iniciado, melhor é o prognóstico da doença. A esquizofrenia é uma doença progressiva, e sem tratamento os surtos se tornam cada vez mais frequentes e deixam cada vez mais sintomas residuais, afetando atividades profissionais e sociais. Em alguns casos, o delírio pode se cronificar e passar a, de certa forma, pautar a vida do paciente, ou seja, ele tende a incorporar o delírio ao seu dia a dia e começa a promover mudanças para conviver com ele, o que piora sua qualidade de vida.

Quando o tratamento começa logo após o primeiro surto, o paciente tende a retomar sua vida normalmente e o risco de novos surtos diminui. Além dos medicamentos, também podem ser necessárias algumas terapias para ressocialização. Quem já está em tratamento não deve interrompê-lo apenas porque está bem, pois os surtos podem voltar a acontecer. A esquizofrenia não tem cura, mas se tratada, é possível viver bem com ela.

Conteúdo produzido em parceria com a Prati-Donaduzzi.